A Marine Story (ou o primeiro post a gente nunca esquece)

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Título original: A Marine Story
Idioma: Inglês
Diretor: Ned Farr
Produtor: Christina Hulen, J.D. Disalvatore, Dreya Weber. 
Roteiristas: Ned Farr. 
Elenco: Dreya Weber, Paris P. Pickard, Christine Mourad, Rob Beddall, Anthony Michael Jones, Jason Williams, Deacon Conroy.

Resenha

(contém spoiler)

 

Marcado pelo patriotismo. É a primeira característica possível de se extrair do filme nos minutos iniciais, quando a oficial da marinha, Alexandra Everett, cuja tradição familiar é servir às Forças Armadas, volta para casa, após “dispensa honrosa”, saída dos campos de guerra de Israel. Encontra uma cidade às moscas e uma casa vazia. Sua primeira atitude, hastear a bandeira norte-americana, tremulando em seu azul, vermelho e branco. Ou, em outras palavras, “uma Everett está em casa”.

Entretanto, não é esse o fim precípuo da película. Corre no ano de 2008 e a oficial da marinha foi dispensada do serviço (em  um momento em que ninguém era desligado) por conta de supostos indícios de conduta inadequada às Forças Armadas. Uma imagem, capturada quatro anos antes, de duas mulheres entre bebidas e intimidades. A imagem era antiga, mas havia uma finalidade para preservá-las. Estatisticamente mais mulheres do que homens eram afastados e demitidos em função da lei “don’t ask, don’t tell”, em bom português, “não pergunte, não conte”, e que proibiam qualquer um que demonstrasse propensão ou intenção de se envolver em atos homossexuais de servirem as forças armadas.

Supunha-se, então, que “poderia criar um risco inaceitável para os altos padrões de moral, ordem, disciplina e coesão das unidades que são essência das capacidades militares”.

Em contrapartida à chegada de Alex, têm-se Safron Snow, jovem de 20 anos que perdeu os pais e irmão em um acidente de carro, tornando-se a única sobrevivente. Mora com a avó, uma senhora de certa idade e levemente senil. Para Safron a vida não passa de suprir seu vicio em metanfetamina, com seu namorado. Ao lado dele, atua em pequenos furtos e outras rebeldias na cidade fantasma. E, na última feita, para o seu azar, foi apanhada. Recebe uma ordem do juiz: serviço militar ou cadeia. É quando a vida das duas efetivamente se cruza.

O xerife da cidade solicita ajuda de Alex, a fim de que instrua a garota para que esta consiga ser recrutada. Por óbvio as primeiras interações entre as duas são, no mínimo, explosivas. De um lado, tem-se uma adolescente rebelde, cabelos coloridos, piercing no rosto, maquiagem marcada. Em uma pequena cidade do deserto, cujo sol escaldante parece exigir que a moralidade fosse acompanhada de roupas leves. Do outro lado, uma militar de carreira, herança familiar, para quem as regras das forças armadas eram leis.

Apesar de afastada, Alex atuava, diariamente, em sua rotina, como se ainda servisse à Marinha. Desde o modo de arrumar à cama até a forma de se relacionar sexualmente, no caso dela com as mulheres, sempre temendo ser vista. Um ruído a mais era o suficiente para tirá-la do eixo. É como se o cordão que a ligasse aos Fuzileiros Navais se mantivesse invisível. Ela não vestia a farda, todas perfeitamente guardadas em seu closet, mas se fantasiava com a carapuça de oficial.

George Walker Bush. É a segunda característica. Presidente norte-americano que ordenou a invasão ao Afeganistão e Iraque, em retaliação aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, volta e meia é referenciado na estação de rádio continuamente sintonizada por Alex. As notícias são exatamente aquelas que interessam a uma militar de primeira linha: as ações das Forças Armadas no Iraque. No ano em que se situa o filme, Bush vivia o seu segundo e último mandado, vendo sua popularidade declinar vertiginosamente. Marcado pelas tensões diplomáticas, adoção de políticas unilaterais para as questões internacionais, “guerra contra o terrorismo”, cortes de financiamento e crises na economia, dentre outros, Bush findou por ser o presidente mais impopular das últimas décadas, com, tão somente, 29% dos americanos, em última pesquisa, apoiando o governo.

Não há uma critica acerca da guerra. Contrariamente, a sensação que se tem, ao longo do filme, é que, “apesar dos pesares”, não há lugar melhor do que as Forças Armadas. Ao menos não há para Alex, e, no momento em que se vê uma pequena discordância em uma mesa de bar – que gera uma briga homérica com dois resultados distintos – ela parece ter uma resposta na ponta da língua. Algo como “se não vai se juntar a nós, cale a boca”.

Considero um roteiro bem bolado, apesar de não encontrar atuações impecáveis. Dreya Weber, que atua como Alex, e também fez “a ginasta”, parece-me ter os mesmos apelos corporais. Sempre muito rígida, o que acaba quase sempre tornando casativo vê-la. A garota Paris P. Pickard, por sua vez, que nunca vi atuando em qualquer outro lugar, não merece maiores ponderações. É razoável e consegue passar certa verdade. No mais, ainda é verde demais para demonstrar boa desenvoltura.

Elas não são um casal no filme, afirmo de pronto. Então não espere por mais do que um abraço amigável e sorrisos no desenvolvimento da amizade das duas. Ôh, porque, sim!, vira amizade. Não imaginavam?

Penso que no que tange ao elenco não se pode esperar muito de um filme independente, que em 2009 teve que ser cancelado por motivos econômicos. Nesse contexto, é possível até dizer que possuiu boas atuações, com um roteiro enxuto e sem grandes arestas. Cansa bastante o continuo nacionalismo, não pela ideia que gera, mas pela sensação rotineira de que o fazem pelos motivos errados. Não sou muito fã da política norte americana, principalmente quando eles possuíam um presidente republicano.

Existem outras questões que perpassam pelo filme e que valem a pena ser ponderadas. A principal deles, sob minha perspectiva, é o papel das mulheres nas Forças Armadas e como elas são consideradas. Não à toa, como dito linhas acima, eram as mulheres, quantitativamente, dispensadas em função da referida lei e – acreditem – isso não se deve ao fato de serem as mulheres a maior parcela de homossexuais dentro das Forças Armadas. Apesar da referida lei expressamente proibir, eram elas as maiores vitimas de perseguição dos superiores. O que me remete ao filme estrelado por Demi More, Até o Limite da Honra (G.I Jane), tudo bem, com uma framboesa de ouro na estante, mas com teor de similitude.

Enfim, não o assista esperando encontrar um romance. Sequer uma fração deles. Alguns beijos esporádicos, duas ou três cenas, uma menção pouco consistente à sexo (ainda estou em dúvida se ocorreu ou não), e pronto, é o que se tem. O foco do filme não é contar uma história de amor. É falar sobre o antes da revogação à lei “don’t speak, don’t tell”, o que só aconteceu dois anos após a posse de Obama, aprovado e sancionado pelo presidente em 22 de dezembro de 2010, que efetivamente a repele. Sim, interessa muito mais aos nacionais, mas nada que furte um estrangeiro de assisti-lo. É bacana para se fazer o exercício comparativo. Na seara pessoal, algumas pelejas na justiça exigem reconhecimento do casal. Na Marinha, o 1º casal brasileiro que conseguiu reconhecer sua condição nas documentações militares, João Silva e Cláudio Nascimento, só o conseguiram após nove meses e depois de uma ação judicial.

Recentemente, há exatos seis dias atrás, a Suprema Corte norte americana derrubou o último obstáculo à igualdade no casamento de militares. Isso porque alguns benefícios como o seguro saúde e auxílio moradia não eram aplicáveis a casais do mesmo sexo, pois, segundo o governo federal, a lei de “Defesa do Matrimônio” definia casamento apenas como união entre um homem e uma mulher.  A referida lei foi derrogada e agora é permitido aos casais do mesmo sexo obterem os mesmo direitos legais de casais heterossexuais. Ainda são 15, nos 50 Estados, que permitem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Penso que a referida decisão ensejará novas discussões acerca do permissivo, mesmo aos Estados mais conservadores.

E, quem sabe, poderemos ver mais imagens como essa:

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Em 22 de setembro de 2011, Marissa Gaeta, oficial de segunda classe, é escolhida para dar o primeiro beijo de chegada após 80 dias no mar.  Sua companheira, Cintlalic Snell é oficial de terceira classe também da Marinha. Foram escolhidas logo após a revogação da lei “don’t ask, don’t tell”.

Espero que tenham gostado e semana que vem tem mais, outro filme, outra resenha.

Até lá! 😉